quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Arte, vida, picaretagem e tristeza.

Uma vez perguntei a um amigo que também escreve, ou escrevia, se ele achava que escrever a partir do que se vive era picaretagem. Ele me respondeu que o resultado até podia não ser picareta, mas sim, era picaretagem. Pensei sobre sua resposta (que me condenava como picareta) e cheguei a uma conclusão diferente.
Porque escrever não se trata apenas de contar histórias, de descrever tramas com mais ou menos estilo. A escrita, o estilo, não são a artes criativas, se aproximam mais das artes marciais, um conjunto de técnicas e ciências não tão exatas, que requerem um domínio além do teórico e uma criatividade pragmática para lidar com os problemas e situações com os quais se defrontam. De modo que a arte da escrita é uma arte instrumental, seu objetivo é tornar comunicável a experiência de outra arte, esta de fato criativa, que nada tem a ver com técnica, a arte e a criatividade com que se percebe e se lida com as situações, sejam elas reais, fictícias ou qualquer coisa entre os dois.
Pouco importa se a trama concreta é real ou fictícia, pois a trama é apenas o substrato da atividade realmente artística e criativa. A função da técnica, da arte de escrever, e de qualquer outra forma de expressão artística é ser capaz de comunicar a experiência de seu autor, de reproduzir em outro a experiência que nele ocorreu, por meio do uso de diversos expedientes, de modo que diferentes experiências encontram expressão mais eficiente por diferentes expressões.
Esta aptidão de certas formas de expressão artística a reproduzir certos tipos de experiência é a resposta de outra pergunta que outro amigo me fez uma vez, a qual me ocupou por muito tempo até que eu desse conta de respondê-la, a qual era “por que a galera acha que só o que é triste é belo?”, e que foi feita na ocasião em que eu comentava algum livro (não lembro mais qual) que eu havia gostado por ser muito triste e amargo.
Eu em momento algum havia afirmado que só que é triste é belo, mas tudo o que eu já havia escrito nada tinha de feliz e tudo o que eu já havia lido e gostado era triste e pesado. Talvez eu tenha uma preferência pelas expressões de tristeza, mas há músicas e poemas que expressam júbilo e que muito me agradam.
A escrita, escrita em prosa, (excluo aqui a poesia, que me parece aproximar-se mais da música) me parece menos apta a expressar felicidade do que outras formas de expressão. Isto porque é de sua natureza ser uma expressão muito mais analítica do que sensorial, ao contrário de expressões como a poesia, a música e a pintura que são quase que puramente sensoriais. O que não significa de maneira alguma que a escrita é um meio incapaz de reproduzir sensações, inclusive as sensações jubilosas. Seria uma completa falácia tal afirmação, tanto porque há o que a contradiga empiricamente, como porque não se pode lidar de maneira puramente analítica com qualquer experiência, pois toda e qualquer experiência, por ser percebida, é já sensorial.
As experiências tristes podem ser expressas de forma puramente sensorial, sem elemento algum de análise (as melodias de Bach são o primeiro e melhor exemplo que me ocorre disto), mas geralmente a angústia vem acompanhada do desejo de explicá-la, de compreendê-la, de dominá-la de alguma forma e em alguma medida. Quanto às experiências jubilosas, não só não sentimos nenhuma necessidade de dominá-la (afinal, qual o uso de se exercer domínio sobre um fenômeno que já nos sucede em acordo com nossas vontades?) como tentativas de tal domínio, principalmente as bem-sucedidas, só fazem desconstruir e afastar a sensação de júbilo que é seu objeto.
Talvez por isso rockstars morram jovens por seus excessos prazerosos (o que não se aplica a Janis, ela tinha uma vida dura e provavelmente entornava o caneco porque vivia na fossa) e escritores, em idade já avançada, cometem suicídio.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

SEMPRE gostei daqueles textos nos quais a primeira palavra vem escrita em caixa alta. Dá uma puta duma ênfase pra palavra, embora essa ênfase nem sempre venha a calhar. Mas enfim, este blog tem o seu pontapé inicial com uma palavra em caixa alta, embora ela não deva ser enfatizada. Nem mesmo este primeiro post deve ser.
Ah, mas a grande ênfase deve ser dada à falta de coisa escrita nessa merda, isso sim! Por preguiça, ou por ter coisa melhor pra fazer, ou por inércia, ou por falta do que escrever, ou por falta de paciência, ou por todas as alternativas anteriores, ainda não tem nada escrito aqui.

Bom, agora tem!

E se alguém esperava um pontapé inicial pomposo, se fodeu! Se este post não é dos melhores, pelo menos ele foi efetivamente escrito e postado, em vez de ficar na lenga-lenga dos pensamentos. E, além disso, a primeira palavra está em caixa alta!